quarta-feira, 21 de junho de 2023
Derrota em Lisboa expõe o risco de deixar a Seleção no limbo
No limbo em que a seleção brasileira se encontra a esta altura, vitórias e derrotas não são parte de qualquer processo de construção de equipe, porque este ainda não foi iniciado. Então, se havia poucos motivos para celebrar o triunfo sobre Guiné, no último sábado, tampouco deveria haver alarmismo após a fraquíssima atuação e os 4 a 2 impostos pelo Senegal. Afinal, a CBF decidiu que o ciclo para 2026 pode esperar.Mas há um traço genuinamente brasileiro: derrotas da seleção reverberam, mais até do que boa parte das vitórias neste período entre Copas. E é por isso que o jogo com Senegal, tão mal jogado a ponto de resultar num placar um tanto desconfortável, pode ser o ponto de partida de um teste de convicções. É o risco embutido na decisão de esperar por Carlo Ancelotti até 2026: ver eventuais resultados ruins criarem uma onda negativa que dirigentes não costumam sustentar.O que ficou claro em Lisboa é que a atual seleção tem mais cara de improviso do que de projeto. Neste contexto, atuações como a desta terça-feira são até esperadas. A questão é a consequência, a forma de lidar com elas, caso haja novos tropeços neste período em que os cargos de comando da seleção, sejam o de treinador ou o de diretor, estão vagos.
A convicção da CBF por Ancelotti
O que deve moldar os próximos passos é a convicção. Se a CBF entende que metade do ciclo entre Copas é suficiente, que o caminho mais curto para dar à seleção as melhores condições de jogar o Mundial de 2026 é ter Ancelotti daqui a um ano, deve seguir com seu plano. Porque, se há algo positivo nele, é uma convicção. A alteração de planos em função de resultados acabaria até com o discurso que motiva a espera pelo treinador italiano. Mas deve estar pronta para lidar com as eventuais consequências de uma escolha tão heterodoxa num país em que resultados gritam.No entanto, mais do que heterodoxa, a escolha não é a melhor forma de se preparar para a Copa. Reflete um país que aposta muito mais em nomes do que em processos. E defender esta posição é algo que nunca dependeu do resultado contra o Senegal: é resultado na crença em métodos.Ganhar um Mundial, o mais incontrolável e indomável dos torneios, não é uma escolha. A única escolha disponível, neste momento, é como se chegará até ele, com que planejamento. E desperdiçar quase metade do período entre Copas sem um treinador não parece a melhor opção, a que mais amplia as chances de chegar ao hexa.
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, é entusiasta de Ancelotti — Foto: Rafael Ribeiro / CBF
O mais assustador é a sensação de que Ancelotti é o único projeto do futebol brasileiro no momento. A CBF ainda não revelou qual o seu plano de transição até ele, tampouco quem executará o planejamento das seleções, sejam elas de base, olímpica ou principal. É tamanha a crença no nome, e não num projeto racional, que os 18 meses que qualquer outro treinador capacitado teria a mais do que Ancelotti são desprezados.Esperar pelo italiano não retira as chances de a seleção ganhar a Copa. Mas, neste momento, cada dia com o cargo vago é um dia perdido. Ao que tudo indica, o futebol nacional entregará a Ancelotti uma encomenda: ganhar a Copa, seja como for. Se o fizer, será um sucesso; se perder, mesmo que num chute desviado a quatro minutos do fim, será um fracasso. E o mais duro é que será com base nos resultados que os processos, os caminhos tortos, serão julgados.
Na derrota para o Senegal, mais desoladora do que a atuação da seleção brasileira, foi a sensação de falta de rumo, de um trabalho na estaca zero. E ainda pior é a possibilidade de permanecer neste estágio por mais um ano.
FONTE:GE/BLOG DO MANSUR