quinta-feira, 8 de maio de 2025
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Nordeste é a região mais satisfeita com a democracia no Brasil, aponta novo estudo
Os brasileiros apoiam a democracia, mas não estão satisfeitos com a forma como ela funciona no Brasil. Essa é a conclusão de estudo realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT ReDem), vinculado à Universidade Federal do Paraná (UFPR). Relatório, publicado nesta quinta-feira (8), aponta que 89% dos brasileiros são democratas convictos, mas apenas 38,2% estão satisfeitos com o funcionamento da democracia brasileira.
O nível de satisfação varia de acordo com a região do País. O Nordeste, por exemplo, possui o maior grau de contentamento, com 49,4% — índice próximo à metade dos nordestinos se declarando satisfeitos ou muito satisfeitos com a democracia.
Nas regiões Sul e Norte, quase metade da população também está satisfeita — com 48,3% e 45,3%, respectivamente. No entanto, o índice de satisfação diminui bastante nas regiões Sudeste, com 35,6%, e Centro-Oeste, com 27,9%.
A pesquisa foi realizada em fevereiro de 2025. Foram feitas entrevistas domiciliares com 1.504 brasileiros maiores de 18 anos de todas as regiões do País. O nível de confiança da pesquisa é de 95%, com margem de erro de 2,5.
O relatório também traz outros recortes quanto ao nível de satisfação dos brasileiros com a democracia. Pessoas com renda acima de R$ 10 mil (73,3%), com Ensino Superior (55,8%) e com idade entre 35 e 44 anos (58,5%) são as mais insatisfeitas.
Por outro lado, pessoas com renda inferior a R$ 3 mil (42,4%), com escolaridade até o Ensino Fundamental (45,7%) e com idade entre 18 e 24 anos (49,2%) são as mais satisfeitas.
Bem-estar social versus Princípios democráticos
Vice-coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Representação e Legitimidade Democrática (INCT-ReDem), o cientista político Ednaldo Ribeiro explica que a próxima etapa do estudo deve analisar quais as razões para insatisfação dos brasileiros com a democracia.
Ele explica que o questionário aplicado durante a pesquisa também mediu o nível de insatisfação com diferentes elementos que compõem o regime democrático, como as eleições, a liberdade de expressão e a redução de desigualdades, dentre outros.
"A nossa suspeita — e que já é algo mais ou menos consolidado na literatura internacional — é de que essa forte insatisfação está muito associada à dificuldade dos governos em entregarem igualdade econômica e desenvolvimento", antecipa Ribeiro.
"O grande desafio das democracias contemporâneas é combinar procedimentos democráticos, liberdades democráticas com entregas sociais, com entregas de bem-estar. Essa é a conclusão fundamental dessa etapa da pesquisa".
Ednaldo Ribeiro
Cientista político e vice-coordenador do INCT ReDem
O pesquisador, que assina o relatório do estudo de campo ao lado do pós-doutorando do INCT ReDem, Daniel Rocha, pontua que os resultados servem de alerta para as instituições democráticas. "A lição que fica é que a consolidação da democracia é uma conquista diária e ela está muito associada a entregas (de bem-estar social)", reforça.
Ele cita que precisam que as instituições democráticas estejam "comprometidas, principalmente, com o bem-estar da população". O que significa desenvolver políticas públicas que garantam a redução das desigualdades sociais, a diminuição da insegurança alimentar, além da garantia da segurança física, exemplifica Ribeiro.
"É preciso que os governos sejam cada vez mais responsivos. Algo que a literatura internacional sobre crise da democracia tem identificado é que uma parcela expressiva das populações estão dispostas a entregar princípios democráticos se alguém oferece para eles o que estamos chamando aqui de entrega de bem-estar", alerta.
"Desenvolvimento econômico, redução da desigualdade, mobilidade de classe... As pessoas valorizam de tal forma isso, que, em algum momento, se colocadas diante da escolha ‘quer o que: liberdade de expressão, realização de eleições periódicas ou você quer bem-estar?’ Uma parte das pessoas pode escolher bem-estar e a gente não pode culpá-la por isso"
Ou seja, se para além do apoio a eleições justas e igualdade perante a lei, eles também consideram relevantes itens como liberdade de expressão, liberdade de oposição, proteção de minorias, dentre outros.
Quando feito o recorte por região, a diferença entre o percentual de democratas convictos e não democratas não tem uma grande variação, com os não democratas nunca ultrapassando 15%.
Novamente, o Nordeste lidera o ranking, mas dessa vez daqueles que não apoiam a democracia: a região é a que mais possui não democratas, com 14,5%. Por outro lado, 85,5% dos nordestinos apoiam a democracia.
Por outro lado, o Sul tem o menor índice de não democratas, com apenas 5,3%. O Norte possui 6,2%; o Sudeste 11,1%; e o Centro-Oeste é o que mais se aproxima do Nordeste, com 13,4% de não democratas
Fonte:Diário do Nordeste