segunda-feira, 28 de julho de 2025
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Miraíma tem a população mais "pobre" do Ceará; confira os indicadores de 20 cidades
Miraíma é o município cearense com a menor renda média mensal por pessoa, estimada em R$ 1.003,70. Em seguida, aparecem com os menores valores de rendimento per capita: Tejuçuoca (R$ 1.014,02), Ararendá (R$ 1.045,85) e Deputado Irapuan Pinheiro (R$ 1.056,72).
As cifras consideram os ganhos do(a) responsável pelo domicílio. O resultado faz parte de um estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), divulgado nessa segunda-feira (21).
A análise tem como base os dados do Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Naquele ano, o salário mínimo era de R$ 1.212.
Assim como Miraíma, outras 64 cidades tinham uma renda inferior a um salário mínimo em 2022, totalizando 35,3% dos municípios do estado.
Para se ter uma ideia, a renda registrada em Miraíma corresponde a apenas 21,8% da renda de Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), que apresenta o maior valor, de R$ 4,6 mil.
Lista dos municípios não contempla locais na RMF
No ranking dos 20 municípios cearenses com os valores mais altos do rendimento nominal, Fortaleza e cidades nos arredores ocupavam a maioria das posições, nas menores remunerações, prevalecem cidades do Vale do Curu, quatro no total.
Tejuçuoca, também na região, aparece na segunda posição com a menor renda. Há três anos, a remuneração nominal média do município era de R$ 1.014,02, 83% de um salário mínimo da época. Hoje, o valor corrigido pela inflação seria de R$ 1.073,05, mas representaria apenas 70% de um salário mínimo.
Apuiarés e General Sampaio completam a lista de municípios do Vale do Curu na lista das piores rendas médias mensais. O Litoral Norte (Bela Cruz, Granja e Martinópole) e o Sertão Central (Choró, Deputado Irapuan Pinheiro e Ibaretama) também aparecem com destaque no ranking.
Quando a situação socioeconômica dos 184 municípios cearenses é analisada, é observado um crescimento e um encolhimento variado, que não segue as mesmas nuances de Eusébio e Miraíma, por exemplo.
Para Wandemberg Almeida, presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), o Ceará passa por um crescimento de 'ilhas econômicas', isto é, determinados municípios concentram o investimento em detrimento de outros.
"Existe realmente uma grande concentração de desenvolvimento em algumas ilhas econômicas. Na Grande Fortaleza, Eusébio, Maracanaú, Horizonte vem se destacando fortemente. Sobral vem crescendo de maneira significativa", lista.
"No Cariri e Sertão Central, Missão Velha e Quixeramobim, onde vai passar atrás de Transnordestina. A gente tem essa concentração ainda muito forte de economia no estado do Ceará. Isso acaba ajudando na disparidade dos rendimentos médios", completa.
O professor da Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), o economista do FGV Ibre João Mário de França, acrescenta que 76% do PIB do Estado vem da Grande Fortaleza e do entorno das regiões metropolitanas de Sobral e Juazeiro do Norte, o que explica essas ilhas.
"É natural que onde ocorra maior concentração do PIB onde os rendimentos oriundo da fonte trabalho sejam maiores devido a vários aspectos, tais como maior oferta de empregos, demanda mais elevada por mão de obra qualificada. Em geral, em virtude da utilização de tecnologias mais avançadas, a produtividade média dos trabalhadores tende a ser maior, o que também reflete nos salários", argumenta.
Por que o Vale do Curu está perdendo a participação no PIB cearense
Miraíma e Tejuçuoca são, ainda de acordo com o Produto Interno Bruto (PIB) dos Municípios de 2021 — último levantamento divulgado pelo IBGE —, as duas cidades do Ceará com maior dependência do poder público, incluindo programas de transferência de renda.
"Em 2017, o Vale do Curu representava 2,82% do total produzido de bens e serviços no estado e, em 2021, caiu para 2,47%. Essa queda de participação certamente indica que está perdendo vigor econômico em relação às regiões mais ricas do estado, o que se reflete na diminuição da oferta de empregos e na queda da renda média", registra o especialista.
Há quatro anos — ainda no auge da pandemia —, mais da metade do PIB das duas cidades vinha da administração pública. Wandemberg Almeida assinala que essas questões se traduzem em uma remuneração média mensal menor.
Por outro lado, tem municípios que acabam não tendo muitos recursos, não recebendo grandes investimentos, o que traz um certo impacto. Acaba dependente de atividades como agricultura, transferências governamentais por meio de programas sociais. Tem também um grande número de empregos informais dentro desses municípios", avalia.
Wandemberg Almeida
Presidente do Corecon-CE
Foto que contém planta fabril da Grendene em Sobral, com várias unidades
Legenda: Sobral é sede de complexos fabris importantes, como a Grendene, do setor de calçados
Foto: Grendene/Divulgação
O especialista ainda analisa que "proximidade geográfica nem sempre se traduz em integração econômica". Miraíma está a aproximadamente 50 km de distância de Sobral por via terrestre, mas não compartilha o mesmo desenvolvimento econômico do que o município da Região Norte, além de ser pouco beneficiada pelo desenvolvimento econômico do local.
"Não é porque tem municípios vizinhos que eles acabam se destacando, e isso é um problema. Olhando para a Miraíma, perto de Sobral, não necessariamente se conecta eficientemente em termos de logística. Estão próximos, mas não tem recursos e nem serviços para poder crescer como o vizinho", pontua Wandemberg.
Fonte:Diário do Nordeste