segunda-feira, 26 de maio de 2025
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Entre duas pedras: a casinha levantada entre rochas no sertão do Ceará que serve de descanso para agricultor
Uma casinha muito engraçada: tem teto, tem porta e tem armadores de redes pendurados entre as duas rochas gigantes que servem de paredes. A casinha em questão existe, e foi erguida entre duas pedras na localidade do Firino, no distrito de Missi, município de Irauçuba, em pleno sertão cearense
A pequena construção foi levantada há cerca de 4 anos pelo agricultor Valdir Magalhães, de 58 anos, em um terreno que pertence à família dele. O local não é a casa onde Valdir mora, mas uma espécie de quarto e depósito que ele utiliza diariamente.
Antes de erguer o local, Valdir guardava suas ferramentas de trabalho na casa do pai, que também é agricultor. Ele teve a ideia de construir a casinha perto da roça onde trabalha para evitar acordar o pai muito cedo, além de ter um espaço onde pudesse cozinhar, armar uma rede e descansar.
"Como eu trabalho lá, aí pra não chegar lá de manhã perturbando o meu pai, veio na cabeça construir um quarto lá pra mim guardar minhas ferramentas de trabalho. É foice, enxada, chibanca, alavanca, machado. É a ferramenta de quem trabalha na agricultura mesmo", disse seu Valdir ao g1.
A verdadeira casa de Valdir, onde mora com sua família, fica na mesma região, também no distrito de Missi, mas está a 2 quilômetros do local onde trabalha. Por isso, a construção entre pedras serviu para economizar deslocamentos, além de servir de ponto de apoio.
A casinha chama atenção de quem passa na estrada de terra próximo. Conforme seu Valdir, é comum pessoas de fora pararem para bater foto da construção e, se o encontram, perguntarem de onde surgiu a ideia para levantar o imóvel ali.
Foi o que aconteceu com o fotógrafo Fernando Braga, que mora em Irauçuba. Ele conta que costuma ir ao distrito de Missi para fazer fotos da região, que é repleta de grandes rochas e olhos d'água. Um dia, no ano passado, quando parou para bater fotos de pássaros, avistou a casinha.
"Aí eu olhei e pensei: 'como é que pode uma casa entre duas rochas, o cara fez uma casa, uma rocha grande e outra maior ainda, e fez a casa bem no centro'", relembra Fernando. "Eu passei assim uns 10 minutos só olhando pra casa, olhando antes de ir pra perto. 'Rapaz, como é que pode? Como é que tem uma imagem dessa aqui?'"
Conforme Fernando, embora a construção seja estreita, ela tem um longo comprimento e ainda conta com um quintal. Toda a área é cercada pela vegetação da caatinga, que a depender da época do ano, seca ou chuvosa, altera a coloração da região. Veja a mudança de cenário abaixo:
Entre duas pedras: uma solução econômica
O agricultor Valdir Magalhães conta que já tinha usado o espaço entre as pedras parar criar animais, mas com o tempo pensou em aproveitar a condição natural para construir o "quartinho", como chama o local.
"Veio a ideia e eu 'sabe que dá pra eu fazer o meu quarto aqui?'. Porque além de ser a coisa mais legal, em vez de eu fazer quatro paredes, eu faço duas", relembra.
A construção é de taipa, portanto, feita essencialmente de madeira, barro e cimento. O local possui um cômodo só, mas é grande o bastante para "armar três redes", nas palavras de Valdir. Por lá, ele também construiu um fogão a lenha.
O distrito de Missi, em Irauçuba, é conhecido na região pela ocorrência de grandes formações rochosas. Muitas das rochas são conhecidas da população por apelidos, como a Pedra do Viola e a Pedra do Coração.
A história do lugar também está intimamente relacionada à produção de algodão, que já foi um dos principais produtos de exportação do Ceará. Irauçuba era uma das grandes produtoras da fibra, chamada pelos agricultores locais de "ouro branco".
O produto era tão importante que faz parte do brasão de Irauçuba, que se tornou município em 1957. Entre as décadas de 1980 e 1990, a praga do bicudo-do-algodoeiro devastou as plantações de algodão no Ceará, e encerrou a era do "ouro branco" em Irauçuba.
Fonte:G1/CE